domingo, 6 de julho de 2014

Dia de África, partilho o meu African Dream

O tema do American Dream, por vezes combinando sodadedzuspérsecafomepartida /ora di baiseparason, ora em aliança ora em antinomia, avulta dentre a diversidade de temas tratados na música – e a partir dos quais muitos de nós, dentro e também fora do país, construímos uma certa imagem de Cabo Verde.
Partir é realizar um sonho, mas com a esperança de voltar. Porquê? Que sonho levou este a sair, viver meio século fora e de olhos postos nesta casinha branca para lhe receber os ossos?  Pergunto-me neste sábado à tarde, no alto da saudade derradeira. A sua última estação onde um familiar veio depor por ele, querido extinto, a sua cruz, agora não literal e só metafórica: as últimas cinzas.

Daqui avisto o centro da antiga Povoação de Santa Cruz,  foz de duas ribeiras. Como as viu a primeira caravela, das vindas da costa, nesse dia 17 de Janeiro da Era de Quatrocentos.  Navegando ao vento por este  mar,  única saída duma Europa com fome –  de fome literal e também  metaforicamente faminta, vendo a miragem milenar do Jardim das Filhas do velho  Héspero, Insulae Fortunatae, Hesperitanae Insulae. Insula, ilha a oeste,  avistada do mar na caravela vinda vendo real mais miragem e sonho projectados. Rica África.

Daqui, metafórica janela, também tenho neste domingo, Dia de África, vista para o mundo.  Da minha janela interior, o meu olhar é global  para este presente e futuro informados pelo conhecimento do passado. As idas e vindas vendo da janela: “na Merca de nos sonhe” (na Merka de nos sonhe)  não são só os tiroteios, mais um suicida interpelando o Pai, nem são  mais uns drones lançados sobre amigos de ontem.  Desta vez, são as denúncias pelo diário novaiorquino mais respeitado: nestes últimos cinco anos,  mais de dois milhões de imigrantes ilegais, a maior parte africanos, foram, estão a ser deportados. Um lustro que marca um triste recorde!
Mas há mais: enquanto esperam a hora da deportação são encerrados em centros de detenção onde podem esperar semanas, meses e anos. E para que esses centros funcionem, é o próprio Governo Federal que está a utilizar a mão-de-obra aí à mão de semear. Tudo de acordo com  a lei, que é da Era  McCarthy, sem correção monetária.  Tudo legal: se a lei diz que o trabalho do detento  pode ser remunerado, a paga é de um dólar por dia de trabalho.  Se a lei não prevê pagamento em dinheiro, faz-se em espécie, por exemplo, xis dias de trabalho em troca de um dia fora, num centro de recreação supervisionado. American Dream crioulo?! Vou mudar de chip!

Daqui  também neste domingo, Dia de África, partilho o meu African Dream  e garanto a quem me lê que todos os dias ponho uma pedrinha para realizar este desafio:

Quero novas imagens neste solo de Cabo Verde africana nação crioula, de todas as cores e tons da universalidade. African Dream, a África com novas imagens que ressumam as nossas alegrias. As alegrias duradouras que  resultam de uma visão própria,  concretizada numa planificação, vontade executiva, empreendedorismo unindo a acção colectiva.

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