quarta-feira, 11 de novembro de 2009

MASCULINO OU FEMININO? Depende do significado, da origem.
1. O dengue; a dengue?
Resposta: O dengue– adj. 2 gen =afectado, presumido. Deriva de ndengue, que em quimbundo significa menino, manha de menino; em Castelhano dengue que significa “denguice, requebro”
A dengue (s.f.)Doença epidémica causada pelo mosquito aedes Aegypti.
2. O pool, a pool, a poule, o poule?Resposta: ???????????
3. O personagem, a personagem?
O dicionário aponta os dois géneros. Há quem distinga o personagem, quando se refere a um actor, por exemplo, mas se for uma actriz diria a personagem. Contudo em português as palavras terminadas em – agem normalmente são femininas: margem, paisagem, aragem, barragem, etc.
4. O cariz, a cariz, o chafariz, a chafariz?
Resposta: O cariz porque é um substantivo o masculino; o chafariz, de origem árabe.



4 anos, 8 meses e 27 dias depois do comentário acima:
Estamos em agosto, a chuva ainda não caiu e o perigo dos mosquitos na fase pós-pluvial da azágua ainda não se faz sentir. E como sempre nada de prevenção.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Prós e contras? Os pró e contra?

Prós e contras? Os pró e contra? Pró-Cabo Verde e *prós-EUA?
Questão 1ª: Se queremos significar "as vantagens e os inconvenientes", dizer "O pró e o contra" é correcto?
Resposta: Embora pouco de nós nos atrevamos a dizer taxativamente que é incorrecto, uma análise mais cuidada, como a que se exige a um professor de português, mostra que: gramaticalmente correcta é a forma plural. Como mostra a experiência de quem lida quotidianamente com a língua portuguesa, a um nível que lhe exige reflexão e exercício constantes, decerto não isentos de err(ância)o)s), esta expressão apresenta-se como uma fórmula fixa, logo invariável.
É esta forma invariável do substantivo (um pluralia tantum) que está nos bons dicionários, incluindo o Houâiss e o da Academia de Letras de Lisboa, ambos recentes e tidos como os melhores de sempre.

Questão 2ª: Dado o que foi dito acima, dizer (com o referido sentido, "vantagens e inconvenientes") pluralizando apenas o artigo "Os pró e o contra" é correcto?
Resposta: Dada a gramática do português, essa construção é incorrecta pois é de regra marcar o plural no substantivo e em todos os elementos da concordância nominal. (N.B.: Há línguas em que essa regra é diferente.)

Questão 3ª: Mas com o sentido "os que são a favor; os que estão contra"? estarão correctas as frases seguintes, de a) a f):
a) Quem é pró e quem é contra? Eu sou pró.
b) Há que desencadear, na sociedade portuguesa, movimentos contra.
c) Duas manifestações, uma pró e outra contra.
d) Os que estão pró e os que estão contra.
e) Venezuelanos pró e contra Chavéz protestam.
f) Duas manifestações, uma pró e outra contra.
Resposta: Cada uma destas frases, em que se omite o objecto directo (a resposta a O QUÊ?), só é aceitável dentro do contexto, em que já houve uma referência ao tema. (Por exemplo, o tema do Acordo Ortográfico.)
Além disso, note-se que "pró", "contra" são neste contexto, advérbios, logo invariáveis.

Questão 4ª: Mas com esse mesmo sentido ("os que são a favor; os que estão contra"), estarão correctas as frases g) e h)?
g) Os pró e os contra protestam.
h) Os pró e os contra manifestem-se!
Resposta: Não serão totalmente correctas, mas só aceitáveis, estas frases. Isto se entendermos que houve uma elipse do substantivo inicial a qual modifica a categoria do Advérbio que passa a substantivo (pró, contra):
g) Os (venezuelanos ) pró e os (venezuelanos) contra (Chavéz) protestam.
h) Os (portugueses) pró e os (portugueses ) contra (o AO) manifestem-se!
Note-se, no entanto, que numa situação em que se deve preferir os sentidos-primeiros, pois os sentidos-segundos implicam análise e ou tempo (sempre escasso), a nossa escrita (para que não se entenda "as vantagens e os inconvenientes de", mas sim "os cidadãos que estão a favor de; se opõem a") deve ir no sentido da maior clareza:
g) Os venezuelanos pró e os contra Chavéz protestam. /Os que estão pró/ contra Chavéz protestam.
h) Os portugueses pró / os contra o AO manifestem-se! /Os que estejam pró/ contra o Acordo que se manifestem.

Questão 5ª: Ainda com esse mesmo sentido ("os que são a favor; os que estão contra"), como se explicam as formas: pró-capitalismo, pró-Rússia, pró-divórcio, contra-natura, contra-nação, os pró-formas, as facturas pró-forma?
Respostas: Nestas formas, retoma-se o significado dos advérbios latinos "pro" e "contra": a favor de, em prejuízo de. Notamos, pois, a actual concorrência entre o advérbio e o substantivo. O substantivo, por outra, tende a surgir nas nossas mentes em primeiro lugar. Daí que o sentido-primeiro que nos ocorre ao ouvirmos "pro" e "contra" não seja o que tinha primitivamente, mas aquele que desenvolveu por extensão semântica e que está a secundarizar o seu concorrente.
N.B: O * (asterisco) significa: não é gramaticalmente correcta/o.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ribeira de Penedo.Marcas dos Dias

Ribeira de Penedo.Marcas dos Dias

Verdadeiras marcas. Porque foram intencionalmente gravadas. Por quem? Com que intenção? Teremos um dia a resposta definitiva?
Respostas já há muitas. Para os habitantes, como nha Bia, o que é certo é que a pedra sempre lá esteve. Ta ben xkorrose, el ta levá tude pedra, so kel lá nunka el pude leva-l.
Se nunca o pôde levar, ao penedo, vai ser cada vez mais impossível, agora que lhe construiram um muro-pedestal e lhe tornaram legíveis as incisões, originalmente da cor da pedra. O silicone (palavra que em 2009 faz 200 anos e que o corrector Windows insiste que é fem., como no francês seu primeiro étimo) sublinha hoje o que outrora só se lia ao pé e com dificuldades maiores.
Protecção e visibilidade. Se isto não se transformar em maior vulnerabilidade: já há mais marcas, tentativas que não passam de garatujas de adolescentes em mare própria de busca de identidade, visibilidade… Tentames porque a pedra é dura e pensemos como um marinheiro, armado de um tosco canivete, como lograria ele gravar na pedra dura? Ou, então, viria já armado de conveniente aparato para a escrita na pedra – um duro estilete metálico. O que quer dizer que viria já preparado, talvez até porque uma das suas funções era precisamente essa: gravar na pedra, na terra vinda de achar, para memória futura. Tudo, pois, seria feito intencionalmente – tão dificeis inscrições.
Respostas mais: que é latim, diz um homem, dum grupo que por cá anda para cima para baixo numa manhã alta. Que é fenício, aventaram especialistas e uma alta autoridade aproveitaria a deixa para embelezar o discurso em dia de inauguração, fazendo-nos ver nautas emissários de Dido, em busca de especiarias no Oceano, além das colunas de Hércules.
Veramente. Existe. Disco Verão azul. Vera nas pedras, penedos da Ribeira de Penedo. Da Saudade, fica noutra ribeira maior, a do Mondego. Aqui a Saudadade mora no nome do Lombo.

Lombo da Saudade. É no pós-Sinagoga. Não há como não se interrogar se não será nome recente, o marketing a apontar, despontar, por aqui.
A saudade pela perda de um ente querido.
Um filho perdido na Praia. Blimunde, imolado, para que o Menino-Teseu possa ascender. Longe de mitos, presente é a dor que lhe trouxe a cidade cruel. Lá onde ela nunca esteve nem nunca quererá ir. Já visitou dois continentes chamada por filhas e primos. A Praia não, que el bebe-l se sangue, ma ses ose ele ene kme-l. M mandá ba beske-l i M interrè-l la na Rebera de Janela. A C era se nome.
Era Maio e as maias...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Fernando Pessoa como bem de interesse nacional

O Conselho de Ministros de Portugal aprova a 30/7/2009 o
Decreto que classifica como bem de interesse nacional o espólio documental de Fernando Pessoa
Este Decreto procede à classificação do espólio de Fernando Pessoa como bem de interesse nacional, denominando-o «tesouro nacional».

É o reconhecimento do interesse cultural - a nível histórico, linguístico, documental e social - do espólio pessoano. Este é constituído pela obra que produziu Fernando Pessoa - desde livros impressos, manuscritos à espera de edição, folhas e notas soltas - bem como por tudo o que leu, incluindo as anotações, sublinhados e outras marcas autógrafas que documentam as suas reacções de leitor.

«tesouro nacional»: o legado de Fernando Pessoa reflecte "valores de memória, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade e exemplaridade". Com esta classificação recebe o espólio a forma de protecção mais elevada conferida a bens culturais móveis.

domingo, 29 de março de 2009

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009




B. Lèza, Francisco Cruz, o compositor, em diálogo com o linguista Baltasar Lopes. Quando as musas aprendem a escrever.


1. Quando-as-musas-aprendem-a-escrever como escrevem elas uma língua só oral?

Como a grande maioria (raríssimos “happy few”) que escrevia a língua materna, ainda por fixar segundo os parâmetros ditados pela investigação científica, também ao B. Leza cabia socorrer-se do sistema de escrita que conhecia, o português.

A escrita o compositor só podia ser etimológica: ele autodidacta ao escrever a sua primeira língua feita poesia, partia do português, a língua-segunda.

2. E se no meio há um linguista?

Aquele que tem preparação académica, baseada nas últimas investigações linguísticas. Nesse meio, o único que a tinha era Baltasar Lopes. Entre BL e B.L enceta-se uma longa conversa. Deduzimo-lo colectando diversos elementos que vão desde os elementos ficcionais encontrados desde os anos de 1930 até à entrevista de 1986 a Laban, passando por uma carta de 1968, interrogamo-nos: qual a relação que vai de B. Leza a Baltasar Lopes, quais as mútuas inter-influências destes contemporâneos criadores?
O que indicia a entrevista de Lopes a Laban é que o linguista procurou intervir lá onde podia, “Pense, pense” incentivava-o. E o compositor pensou e fez.

Esta, a hipótese: a de que das conversas entre BL e B.Lèza tenha surgido um complemento que permitiu ao compositor estruturar melhor a palavra escrita.
Um complemento porque a base era trabalho de músico: a sensibilidade musical exercitada, o trabalho sobre as sonoridades.
Sonoridades musicais que exigem ao compositor o pensar sobre o que é uma arte dos sentidos. Um pensar o que ouve a exigir e não dispensando o método investigativo do linguista. Este que se debruça sobre os traços próprios de cada som isolado e também na sua organização que segue as regras próprias, tal como a língua. Das sequências sonoras, analisar as harmonias e distingui-las de desarmonias, é um trabalho que decorre do conhecimento da natureza dos sons. São as palatais, apicais, guturais, líquidas, vibrantes, abertas, fechadas, arredondadas, velarizadas…
Sonoridades próprias de cada palavra, harmonias e desarmonias que decorrem da natureza dos sons combinados: xkuta: Esta, uma sequência consoante-consoante que soa áspera ao ouvido, logo imprópria para a música, claro. Vamos pois a criar uma ponte. Uma vogal, alta, a ligar as duas margens: sucuta/sukuta: Ou talvez só uma vogal central: sacuta/sakuta.
(continua)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Viagem das palavras 1

Viagem das palavras

Viajam como nós, porque são parte de nós. Nós, seres da natureza e seres da cultura. Transformando aquela por obra desta. Esta sempre no limiar entre as duas fronteiras.
Palavras dão nome. Às vezes vêm com o produto importado. Forme este ideias ou coisas, do imaginário e do real.
Palavras que dão substância à música e poesia têm viajado através dos tempos. No nosso presente, usamo-las sem nos darmos conta do quanto viajaram, vindas de lugares e épocas, longínquos.
Viagem na Música, de cordas e com acompanhamento da Poesia. É Blimunde, na tradição de Santão Antão. Blimunde, o seduzido – fatalmente –pelos acordes musicais que gemem nas cordas dum cavaquim/kavakin. Este instrumento de cordas – adaptação, e cultural naturalização, da harpa, da cítara, da viola –é magistralmente dominado por um menino, o guardador de vacas. Com poesia simples, nascida com e para a música, este Menino promete sonhos. E com eles libertará de Blimunde o reino. Blimunde perdido com a promessa da mão da codêzinha/kodêzinha do rei.
Blimunde que ganha preeminência nas narrativas contemporâneas(?) para um público ávido de heróis libertadores. Blimunde tornado Blimunda no romance contemporâneo de Saramago, a que apetece seguir o rasto talvez para encontrar uma filiação, senão a mesma inquietação. A vida a inspirar a literatura.
A vida na imaginação transmitida desde que a Humanidade existe. A vida também, claro, no imaginário subjacente às nossas tradições orais. Estas que centram o foco no Menino cheio de artes e manhas. Ecoam aqui neste Menino, músico e letrista, ecoam nele quer a astúcia de Hércules quer o engenho de Teseu. Hércules domando monstros e leões, seres estranhos e exóticos cuja extinção trará ao herói o prémio mais desejado. Teseu dominando o Minotauro, enganado no seu labirinto com promessas de Ariadne, a filha dilecta do rei.
Menino sem nome, arquétipo com que nos identificamos, meninos e meninas sentados numa sala ou num terreiro, a olhar para a ribeira e montanha ou costa próximas.
Viagens de um arquipélago para outro, de uma ilha para outra. Desde onde e quando e até onde e quando?