quarta-feira, 1 de novembro de 2017
Toponímia capitalina — Criatividade gerada pelo erro
Misóginos
dizem que o erro de Deus gerou a mulher. Sem misoginia, vou dar aqui conta de
um erro ortográfico que gerou uma heroína.
Nesse
entardecer, a parente chegada para uma primeira visita à capital faz-nos o
inventário das suas descobertas.
Numa
cidade sem topónimos, o centro da cidade é a exceção. Está sobretudo encantada
com o único nome de rua que homenageia uma mulher. Sim?! Espantei-me. Antes de
ter tempo de se espantar com o nosso espanto eis a “ rua Judite Bicker”, atira
ela triunfal sacando do ‘tablet’ com a foto que junto.
Ela
bem escreveu: “A primeira vez que vi a placa metálica, letras brancas sob fundo azul, numa rua transversal da
capital pus-me a imaginar uma heroína da nossa história comum. Uma filha das
ilhas com ascendentes em dois continentes, relembrada numa rua da capital.
Deduzo que ela seria, decerto, uma representante dos encontros que no nosso
país se deram entre povos diferentes”.
A
imaginação a voar, a minha parente já estava a ver nessa "Judite
Bicker" uma filha das ilhas que desbravou caminhos.
Onde
estão os topónimos a lembrar-nos as valorosas mulheres da nossa terra?
A verdade é mais prosaica
A
rua com a placa lá está há anos, muitos, desde que me lembro. Mas quase juraria
que como eu muita gente nunca lhe ligou. Confesso que evito olhar para ela,
para não me cansar. Como os erros não assumidos cansam! Concluo sempre. E mais
uma vez, como há anos venho tentando, faço nova tentativa para se corrigir um
erro na toponímia.
Vamos à real história. A rua
dedicada a "Júdice Bicker" homenageia o segundo
governador da mui conturbada era republicana.
Joaquim
Pedro Vieira Júdice Bicker esteve por cá de 1911 a 1915, depois de governar a
província de São Tomé e Príncipe.
Eugénio
Tavares em 1913 publicou em ’A Voz de Cabo Verde’ um longo artigo sobre a ação
deste governador que ia a meio do mandato.
É
uma leitura indispensável para bem conhecer como o republicanismo convivia com
os resquícios do regime monárquico recém-derrubado.
(Fico-me
por aqui, à espera de incentivos para continuar)
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Pensamentos de outubro
Finda Outubro.
Outubro. É o mês da safra feita, "midje na tambaque
(midje na tanbake)", e há os nossos meninos e meninas em outubro nascidos. ...................................................................E gente das artes e ciências, criadores que dizem inspirar-se no facto de terem
nascido em outubro. ...............................Eugénio nhô Génio prova-o? Faz sentido: si ca bado ca ta
birado/si ka badu ka ta birado/si ka badu ka ta biradu, ............................como é que eu pensaria a 500 mil quilómetros, estando na
Lutécia, cidade das luzes, que o Halloween teve de inspirar-se nas antigas
tradições de camponeses em ano de fartura, um setembro farto para estes das
Hespérides ignotas, ..............................mês farto que em outubro já os fez esquecer a providência e
a previdência, ................................e por entre festejos, cheios de 'seberbindade' atiram bobras-foga
tornadas bespotes 'pa rotcha bòxe'. Já sem se lembrar que estão a desafiar o Céu
movidos apenas pelo instinto de desforra sobre a gente da vila que lhes vende
caro o milho e as sementes em anos de vacas magras..................................................................................................
E a referência à cidade das Luzes, impôs-me o
seguinte exercício de pensamento:
- Se Paris deixou de estar
na Praia – deixou de haver residente desde o Embaixador Barbès, que se
aposentou, e desde setembro 2015 o representante francês reside em Dacar) --,
porque é que a Praia não mudou o lugar da representação? Calcule-se o que não iria render para os
cofres nacionais a renda da embaixada? Cabo Verde tem representação diplomática
também em Bruxelas, Luxemburgo, Roma, Madrid, Lisboa, cuja distância (via
aérea) é menos de duas horas, às vezes menos de uma …. Porque é que não se faz
a melhor alocação possível de recursos?.......................................
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
O Eugénio Tavares jornalista tinha uma definição pejorativa de "governança"
Volto ao tema que aqui tratei em quarta-feira, 5 de abril de 2017
Qual a diferença entre governança e governação (Volto transcrevendo o 1º parágrafo:) // Há anos que tenho opinado (com base em fontes) que o anglicismo governance deve ser tratado como tal. Ou seja, usado sempre que não exista equivalente e escrito entre aspas (neste caso, italicizei-o) para indicar que não é uma palavra do português. Como anglicismo, o seu uso deve indicar que não há em português um vocábulo exacto/exato para o traduzir.
Em janeiro de 1913, o patrono do Dia da Cultura (instituído no Cabo Verde independente, no 3º milénio), escrevia em 'A Voz de Cabo Verde' um artigo contra o poder colonial, designadamente os seus agentes que aqui em Cabo Verde governavam mal, designadamente praticando a corrupção a vários níveis, em cumplicidade com: "...um certo comércio, avisado e prudente, casado de há longos anos com a ilustríssima senhora D. Governança (...)". (Pode ser consultado a pág.116-120 de "Eugénio Tavares pelos jornais", do investigador Félix Monteiro).
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Qual a diferença entre governança e governação
Qual a diferença entre governança e governação
Há anos que tenho opinado (com base em fontes) que o anglicismo
governance deve ser tratado como tal. Ou seja, usado sempre que não exista
equivalente e escrito entre aspas (neste caso, italicizei-o) para indicar que
não é uma palavra do português. Como anglicismo, o seu uso deve indicar que não
há em português um vocábulo exacto/exato
para o traduzir.
De facto “governance” em inglês tem um leque tão variado de usos que se
pode aplicar a noção a quase todas as a(c)tividades desde a política até à
economia e à etnologia, a nível tanto formal como informal, etc. Como se pode
ver, bem longe do carácter especializado que se lhe anda a conferir na nossa
língua oficial em que exprime a ideia de
que se trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração
mais transparente de toda uma sociedade.
Todavia, o leitor pode ficar enredado no facto de que os actuais/atuais dicionários gerais têm estado a definir “governança” como sinónimo de “governo” e “governação” (para referir o “acto/ato de governar”). E, de
facto, a palavra “governance”, embora ande traduzida como “governança”, é também muitas vezes
posta em correspondência com “governação” (nas traduções, por exemplo, que
exigem rápidas transferências. Pressa, como é próprio infelizmente do
vocabulário mediático).
O interesse de “governança” como noção (vamos
adje.c.tivá-lo e com exagero) renovada explica-se assim: o utilizador sente que
ganha em transparência em detrimento de governação, uma noção, vamos dizê-lo
(de novo com exagero para se perceber melhor), obsoleta – porquanto, traz
consigo tudo quanto é não-eficaz se o utilizador quiser transmitir de si uma
imagem positiva de líder -- representativo, transparente, carismático, criativo
no contexto político, com sentido de Estado, etc.
1ª recomendação: use
“Governação”
Em português, o vocábulo a utilizar quando nos queremos
referir ao “acto/ato de governar” é “governação”. O seu étimo é
“gubernare”, já utilizado no primeiro tratado existente tanto quanto sabemos, a
“Politeia” de Platão. O verbo que encontramos em latim para significar desde o
dirigir um navio, ou intransitivamente dirigir, governar, … e até sustentar-se
a si e à família.
2ª recomendação: evite
“Governança”
O uso de “governança”, que tem vindo a ser feito como sinónimo de
“governação”, tem de ser explicado para perceber o quanto é, por razões de
lógica e economia linguística, para evitar.
Ora bem, “governança” foi até ao século XV utilizado no domínio de poder
administrativo não emanando do rei, ou seja com o sentido que hoje temos para
“governação”. Como mostram textos anteriores, “governação” foi primeiro
utilizado no domínio marítimo e, com o tempo, começou a estender-se à
administração política (como mostram os textos jurídicos do séc. XV) e
especializou-se neste domínio. Com isso, “governança” perdeu o sentido no domínio da administração de poder
municipal, como se especializara e que passou doravante para o vocábulo “governação”.
Em sentido especializado, temos pois “governação” enquanto que “governança”,
a partir do século XV, passou a ter um sentido pejorativo (pelo menos, em
português de Portugal – PE). Isto que o especialista analisa ao fim de anos de
estudos sobre textos desde o português médio ao coetâneo, pode o leitor curioso
consultar em segundos nos dicionários hoje disponíveis até online.
3ª recomendação: se não
puder evitar, use “Governance”
Se sente que não pode usar “governação” e explicar ao mesmo tempo que se
trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração mais
transparente de toda uma sociedade… então use “governance”(e esqueça que esta veio do francês “gouvernance”).
Mas… os dicionários
dizem que são sinónimos?!
Qual a diferença entre governança e governação
Há anos que tenho opinado (com base em fontes) que o anglicismo
governance deve ser tratado como tal. Ou seja, usado sempre que não exista
equivalente e escrito entre aspas (neste caso, italicizei-o) para indicar que
não é uma palavra do português. Como anglicismo, o seu uso deve indicar que não
há em português um vocábulo exacto/exato
para o traduzir.
De facto “governance” em inglês tem um leque tão variado de usos que se
pode aplicar a noção a quase todas as a(c)tividades desde a política até à
economia e à etnologia, a nível tanto formal como informal, etc. Como se pode
ver, bem longe do carácter especializado que se lhe anda a conferir na nossa
língua oficial em que exprime a ideia de
que se trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração
mais transparente de toda uma sociedade.
Todavia, o leitor pode ficar enredado no facto de que os actuais/atuais dicionários gerais têm estado a definir “governança” como sinónimo de “governo” e “governação” (para referir o “acto/ato de governar”). E, de
facto, a palavra “governance”, embora ande traduzida como “governança”, é também muitas vezes
posta em correspondência com “governação” (nas traduções, por exemplo, que
exigem rápidas transferências. Pressa, como é próprio infelizmente do
vocabulário mediático).
O interesse de “governança” como noção (vamos
adje.c.tivá-lo e com exagero) renovada explica-se assim: o utilizador sente que
ganha em transparência em detrimento de governação, uma noção, vamos dizê-lo
(de novo com exagero para se perceber melhor), obsoleta – porquanto, traz
consigo tudo quanto é não-eficaz se o utilizador quiser transmitir de si uma
imagem positiva de líder -- representativo, transparente, carismático, criativo
no contexto político, com sentido de Estado, etc.
1ª recomendação: use
“Governação”
Em português, o vocábulo a utilizar quando nos queremos
referir ao “acto/ato de governar” é “governação”. O seu étimo é
“gubernare”, já utilizado no primeiro tratado existente tanto quanto sabemos, a
“Politeia” de Platão. O verbo que encontramos em latim para significar desde o
dirigir um navio, ou intransitivamente dirigir, governar, … e até sustentar-se
a si e à família.
2ª recomendação: evite
“Governança”
O uso de “governança”, que tem vindo a ser feito como sinónimo de
“governação”, tem de ser explicado para perceber o quanto é, por razões de
lógica e economia linguística, para evitar.
Ora bem, “governança” foi até ao século XV utilizado no domínio de poder
administrativo não emanando do rei, ou seja com o sentido que hoje temos para
“governação”. Como mostram textos anteriores, “governação” foi primeiro
utilizado no domínio marítimo e, com o tempo, começou a estender-se à
administração política (como mostram os textos jurídicos do séc. XV) e
especializou-se neste domínio. Com isso, “governança” perdeu o sentido no domínio da administração de poder
municipal, como se especializara e que passou doravante para o vocábulo “governação”.
Em sentido especializado, temos pois “governação” enquanto que “governança”,
a partir do século XV, passou a ter um sentido pejorativo (pelo menos, em
português de Portugal – PE). Isto que o especialista analisa ao fim de anos de
estudos sobre textos desde o português médio ao coetâneo, pode o leitor curioso
consultar em segundos nos dicionários hoje disponíveis até online.
3ª recomendação: se não
puder evitar, use “Governance”
Se sente que não pode usar “governação” e explicar ao mesmo tempo que se
trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração mais
transparente de toda uma sociedade… então use “governance”(e esqueça que esta veio do francês “gouvernance”).
Mas… os dicionários
dizem que são sinónimos?!
Resumindo o que acima
fica, transcrevo: “A noção de governança parece ter a agenda secreta de
racionalizar totalmente a governação, de não deixar nada por explicar” (J. M.
Curado, Estruturas de Governação, CDN2006).
Qual a diferença entre governança e governação
- Qual a diferença entre governança e governação
Há anos que tenho opinado (com base em fontes) que o anglicismo
governance deve ser tratado como tal. Ou seja, usado sempre que não exista
equivalente e escrito entre aspas (neste caso, italicizei-o) para indicar que
não é uma palavra do português. Como anglicismo, o seu uso deve indicar que não
há em português um vocábulo exacto/exato
para o traduzir.
De facto “governance” que em inglês tem um leque tão variado
de usos que se pode aplicar a noção a quase todas as a(c)tividades desde a
política até à economia e à etnologia, a nível tanto formal como informal, etc.
Como se pode ver, bem longe do carácter especializado que se lhe anda a
conferir na nossa língua oficial em que exprime
a ideia de que se trata de uma forma de governação que pugna por um tipo
de administração mais transparente de toda uma sociedade.
Todavia, o leitor pode ficar enredado no facto de que os actuais/atuais dicionários gerais têm estado a definir “governança” como sinónimo de “governo” e “governação” (para referir o “acto/ato de governar”). E, de
facto, a palavra “governance”, embora ande traduzida como “governança”, é também muitas vezes
posta em correspondência com “governação” (nas traduções, por exemplo, que
exigem rápidas transferências. Pressa, como é próprio infelizmente do
vocabulário mediático).
O interesse de “governança” como noção (vamos
adje.c.tivá-lo e com exagero) renovada explica-se assim: o utilizador sente que
ganha em transparência em detrimento de governação, uma noção, vamos dizê-lo
(de novo com exagero para se perceber melhor), obsoleta – porquanto, traz
consigo tudo quanto é não-eficaz se o utilizador quiser transmitir de si uma
imagem positiva de líder -- representativo, transparente, carismático, criativo
no contexto político, com sentido de Estado, etc.
1ª recomendação: use
“Governação”
Em português, o vocábulo a utilizar quando nos queremos
referir ao “acto/ato de governar” é “governação”. O seu étimo é
“gubernare”, já utilizado no primeiro tratado existente tanto quanto sabemos, a
“Politeia” de Platão. O verbo que encontramos em latim para significar desde o
dirigir um navio, ou intransitivamente dirigir, governar, … e até sustentar-se
a si e à família.
2ª recomendação: evite
“Governança”
O uso de “governança”, que tem vindo a ser feito como sinónimo de
“governação”, tem de ser explicado para perceber o quanto é, por razões de
lógica e economia linguística, para evitar.
Ora bem, “governança” foi até ao século XV utilizado no domínio de poder
administrativo não emanando do rei, ou seja com o sentido que hoje temos para
“governação”. Como mostram textos anteriores, “governação” foi primeiro
utilizado no domínio marítimo e, com o tempo, começou a estender-se à
administração política (como mostram os textos jurídicos do séc. XV) e
especializou-se neste domínio. Com isso, “governança” perdeu o sentido no domínio da administração de poder
municipal, como se especializara e que passou doravante para o vocábulo “governação”.
Em sentido especializado, temos pois “governação” enquanto que “governança”,
a partir do século XV, passou a ter um sentido pejorativo (pelo menos, em
português de Portugal – PE). Isto que o especialista analisa ao fim de anos de
estudos sobre textos desde o médio ao coetâneo, pode o leitor curioso
consultar em segundos nos dicionários hoje disponíveis até online.
3ª recomendação: se não
puder evitar, use “Governance”
Se sente que não pode usar “governação” e explicar ao mesmo tempo que se
trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração mais
transparente de toda uma sociedade… então use “governance”(e esqueça que esta veio do francês “gouvernance”).
Mas… os dicionários
dizem que são sinónimos?!
Resumindo o que acima
fica, transcrevo: “A noção de governança parece ter a agenda secreta de
racionalizar totalmente a governação, de não deixar nada por explicar” (J. M.
Curado, Estruturas de Governação, CDN2006).
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
“Acordo Ortográfico”: Novo manifesto contesta o "critério da pronúncia" que gera aberrações
O manifesto dos "Cidadãos contra o ’Acordo
Ortográfico’ de 1990" (AO90), divulgado pela comunicação social esta
segunda-feira, 23 em Lisboa, contesta o "critério da pronúncia"
adoptado, que "gerou aberrações" e "abriu a caxa de
Pandora", ou seja, a fonte de todos os erros.
O Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, tratado internacional firmado em 1990
com o objectivo de criar uma ortografia unificada para o português, volta a ser
contestado pela enésima vez, no manifesto “postado” nas redes sociais e
divulgado esta segunda-feira, 23 em Lisboa.
~
Dirigido ao
Chefe de Estado, ao parlamento e ao Governo, a juízes dos tribunais, "aos
portugueses, funcionários públicos, escolas públicas, particulares e
cooperativas, respectivos professores e alunos, universidades, editoras e
autoridades administrativas independentes", lê-se no manifesto que "o
processo de entrada em vigor do AO90, nos Estados lusófonos, começou por ser um
golpe político". Chamam a atenção, os subscritores, que Angola e
Moçambique, "os dois maiores países de Língua Portuguesa a seguir ao
Brasil", "nunca o ratificaram", enquanto Portugal, Brasil e Cabo
Verde "o mandaram ’aplicar’ obrigatoriamente".
O manifesto,
assinado por mais de uma centena de personalidades, como o escritor António
Lobo Antunes, Boaventura de Sousa Santos, Eduardo Lourenço, Isabel Pires de
Lima, António Barreto, Carlos Fiolhais, Carlos do Carmo e António-Pedro
Vasconcelos, é também dirigido à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa, à Academia das
Ciências de Lisboa, ao Instituto de Linguística Teórica e Computacional e ao
Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, à Imprensa Nacional — Casa da
Moeda "e a todas as restantes entidades públicas e privadas".
"Critério
da pronúncia gera absurdos"
"O AO90
criou arbitrariamente centenas" de entradas de dicionário, "até aí
inexistentes em qualquer das ortografias", como "conceção" por
"concepção", "receção" por "recepção",
"espetador" por "espectador", que geraram "confusões
semânticas: "’conceção de crédito’, ’receção económica’ ou ’espetador de
cinema’", citam os signatários, no tocante às consoantes mudas, defendendo
que são exemplos.
"No
entanto, pela mesma lógica, o AO90 deveria começar por cortar a mais ’muda’ de
todas as consoantes: o "h" inicial. O que não fez", realça o
texto assinado personalidades de vários domínios do saber.
Segundo o
documento, o AO90 "estabeleceu 17 normas que instituem duplas grafias ou
facultatividades, assentando num critério que se pretende de acordo com as
’pronúncias’", dando como exemplos "corrupto" e
"corruto", "ruptura" e "rutura",
"peremptório" e "perentório".
No caso de
"’óptico’ (relativo aos olhos), com a supressão da consoante ’muda’ ’p’,
passou a ’ótico’ (relativo aos ouvidos), o que cria a confusão total"
entre especialistas e público, "que deixam de saber a que órgão do corpo
humano" se refere.
Em Portugal,
para os subscritores do manifesto, como Constança Cunha e Sá e Eugénio Lisboa,
"a eliminação sem critério das consoantes ’c’ e ’p’, ditas ’mudas’, afasta
as ortografias do português europeu e do Brasil", tendo ainda criado
"desagregações nas famílias de algumas palavras".
Salienta o
texto que estas "desagregações" provocam "insólitas
incoerências", como "Egito" e "egípcios", produtos
"lácteos" e "laticínios", os "epiléticos" que
sofrem de "epilepsia" ou o "convector" que opera de modo
"convetivo".
"O facto
de as facultatividades serem ilimitadas territorialmente", acrescenta o
manifesto, "conduz a uma multiplicação gráfica caótica", como
acontece com "’contacto’ e ’contato’, ’aritmética’ e ’arimética’".
"O curso
universitário de ’Electrónica e Electrotecnia’ pode ser grafado com 32
combinações diferentes", o que é "manifestamente absurdo", lê-se
no manifesto assinado por personalidades, como Maria Teresa Horta, Manuel
Alegre e António Garcia Pereira, e cinco associações, entre as quais a Sociedade
Portuguesa de Autores. . "A confusão maior surgiu entre a população que se
viu obrigada a ter de ’aplicar’ o AO90, e passou a cortar ’cês’ e ’pês’ a eito,
o que levou ao aparecimento de erros", como "batérias",
"impatos", "ténicas", "fição", "adatação",
"atidão", "abruto" e "adeto", "além de
cortarem outras consoantes, como, por exemplo, o ’b’ em ’ojeção’, ou o ’g’ em
’dianóstico’".
Os
subscritores, como Helena Roseta, José Pacheco Pereira e Januário Torgal
Ferreira, afirmam que, no uso de maiúsculas e minúsculas, "o caos
abunda" e é "caótica "a forma como se utiliza o hífen":
"guarda-chuva" e "mandachuva", "cor-de-rosa" e
"cor de laranja" são alguns exemplos.
"Entre
outras arbitrariedades, a supressão do acento agudo cria situações caricatas. A
expressão popular: ’Alto e pára o baile’, na grafia do AO90 (’Alto e para o
baile’) dá origem a leituras contraditórias", e a frase "Não me pélo
pelo pêlo de quem pára para resistir" fica incompreensível, adianta o
documento. "Para ’compensar’ o desaparecimento da consoante ’muda’ e
evitar o ’fechamento’ da vogal anterior, imposto pelo AO90, na escrita
corrente, surgem aberrações espontâneas como a colocação de acentos fora da
sílaba tónica", como "’correção’ escrito ’corréção’, ’espetaculo’
corrigido para ’espétaculo’ ou mesmo ’letivo’ que passa a ’létivo’".
Um "caos
ortográfico" que se reflecte nos vários dicionários, correctores e
conversores, consideram os subscritores do manifesto.
AO1990:
“efeitos opostos...não uniu, não unificou...É um fracasso ...ideia imprevidente do PM Cavaco Silva”
"O
`Acordo Ortográfico` de 1990 (AO90) nasceu de uma ideia imprevidente do então
primeiro-ministro, Cavaco Silva, a pretexto de `unificar` `as duas ortografias
oficiais` do Português (sic) - alegadamente para evitar que o Português de
Portugal se tornasse uma `língua residual`(!) -, e de `simplificar` a
escrita", lê-se no manifesto.
"Na
realidade, o que fez foi abrir uma caixa de Pandora e criar um monstro. O AO-90
--- a que os sucessivos Governos, com uma alegre inconsciência, foram dando
execução ---, é um fiasco político, linguístico, social, cultural, jurídico e
económico", sentencia o manifesto.
O AO90, lê-se
no manifesto, "teve os efeitos exactamente opostos aos que se propunha:
não uniu, não unificou, não simplificou. É um fracasso político, linguístico,
social, cultural e jurídico".
"É
também um fracasso económico, pois, ao contrário do que apregoou, não fez
vender mais nem facilitou a circulação de livros. Pelo contrário: as vendas
caíram".
"O
Português pré-AO90 continua a ser a ortografia utilizada nos dois países
luso-escreventes mais populosos (logo a seguir ao Brasil): Angola e Moçambique;
o que obriga a duas edições de livros e de manuais escolares por parte das
Editoras: uma com e outra sem o AO90", acrescenta o texto.
"Foi
pior a emenda que o soneto", segundo os subscritores do manifesto,
realçando que "a diversidade ortográfica --- entre apenas duas variantes
do Português: o de Portugal e o do Brasil --- nunca foi obstáculo à comunicação
entre os diversos povos de Língua portuguesa", e enfatizam que "nunca
foi razão de empobrecimento, mas, pelo contrário, uma afirmação da pujança da
nossa língua; o que, aliás, faz dela uma das mais escritas e utilizadas do
Mundo".
Os
subscritores, entre os quais se encontram também José Ribeiro e Castro e Júlio
Pomar, lembram que "o Inglês tem 18 variantes, e não deixa por isso de ser
a principal língua internacional, o francês tem 15 e o castelhano, 21".
Para os subscritores, "as `aplicações` do AO90 afastam o Português padrão
das principais línguas internacionais, o que só traz desvantagens em termos
etimológicos, de globalização e de aprendizagem dessas línguas
estrangeiras".
"O AO90
dividiu a sociedade e as gerações, ao impor uma forma de escrita nas escolas,
universidades, instituições do Estado e da sociedade civil --- enquanto a
esmagadora maioria dos Portugueses continua a escrever com o Português
pré-AO90", afirma-se no manifesto.
Desvincular,
revogar já
O manifesto
assinado por mais de cem personalidades tem por objetivo "a desvinculação
de Portugal ao `Acordo Ortográfico` de 1990, do 1.º e do 2.º Protocolo
Modificativo ao AO90 (ou, no mínimo, a sua suspensão por tempo
indeterminado)".
"Requeremos
também a revogação imediata da resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011,
de 25 de Janeiro, com efeitos retroactivos, apagando os efeitos
inconstitucionais e, por isso, nulos, que produziu iniquamente", concluem
os subscritores.
Fontes: Lusa,
RTP, página oficial do grupo contra o Acordo Ortográfico.
MLL
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