Misóginos
dizem que o erro de Deus gerou a mulher. Sem misoginia, vou dar aqui conta de
um erro ortográfico que gerou uma heroína.
Nesse
entardecer, a parente chegada para uma primeira visita à capital faz-nos o
inventário das suas descobertas.
Numa
cidade sem topónimos, o centro da cidade é a exceção. Está sobretudo encantada
com o único nome de rua que homenageia uma mulher. Sim?! Espantei-me. Antes de
ter tempo de se espantar com o nosso espanto eis a “ rua Judite Bicker”, atira
ela triunfal sacando do ‘tablet’ com a foto que junto.
Ela
bem escreveu: “A primeira vez que vi a placa metálica, letras brancas sob fundo azul, numa rua transversal da
capital pus-me a imaginar uma heroína da nossa história comum. Uma filha das
ilhas com ascendentes em dois continentes, relembrada numa rua da capital.
Deduzo que ela seria, decerto, uma representante dos encontros que no nosso
país se deram entre povos diferentes”.
A
imaginação a voar, a minha parente já estava a ver nessa "Judite
Bicker" uma filha das ilhas que desbravou caminhos.
Onde
estão os topónimos a lembrar-nos as valorosas mulheres da nossa terra?
A verdade é mais prosaica
A
rua com a placa lá está há anos, muitos, desde que me lembro. Mas quase juraria
que como eu muita gente nunca lhe ligou. Confesso que evito olhar para ela,
para não me cansar. Como os erros não assumidos cansam! Concluo sempre. E mais
uma vez, como há anos venho tentando, faço nova tentativa para se corrigir um
erro na toponímia.
Vamos à real história. A rua
dedicada a "Júdice Bicker" homenageia o segundo
governador da mui conturbada era republicana.
Joaquim
Pedro Vieira Júdice Bicker esteve por cá de 1911 a 1915, depois de governar a
província de São Tomé e Príncipe.
Eugénio
Tavares em 1913 publicou em ’A Voz de Cabo Verde’ um longo artigo sobre a ação
deste governador que ia a meio do mandato.
É
uma leitura indispensável para bem conhecer como o republicanismo convivia com
os resquícios do regime monárquico recém-derrubado.
(Fico-me
por aqui, à espera de incentivos para continuar)
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