Entre
(não-)feminino e neutro
Presidenta. A
primeira presidente eleita da Argentina deu o tom. E desde a sua primeira
eleição há oito anos que a palavra entrou no vocabulário dos media
Parece
que sem muita reação contrária dos hispanófonos que tanto dizem la estudiante
como la estudianta. Mas entre nós que
falamos a “língua de Camões”, muitos são os que acham que não: que não se deve
dizer. Os que estão “por” mas também os que estão “contra” têm lá as suas
razões que apresentam com maior ou menor capacidade dialética.
A língua
é fenómeno social e sujeita por isso a mudanças sempre que a sociedade muda os
seus paradigmas. A modernização social trouxe, no espaço da língua portuguesa,
por exemplo, ministras. Mas ainda não trouxe primeira-ministra: a única que
houve em 1979, em Portugal, chamavam-lhe a
primeiro-ministro (o que até era um erro gramatical, mas ninguém pareceu
incomodar-se, ou teria sido porque durou só 100 dias?). Também a eleição de uma
presidente ainda não foi impactante para provocar uma mudança na língua. Mais
abaixo, discute-se o caso da “presidenta”.
Trouxe também a diferenciação social marcada
pela escolha entre –e “-e” e “-a”: juízes e juízas (de Direito), mestras e
mestres, etc. Com especializações muito vincadas, ao lado das profissões que
durante séculos foram um feudo exclusivo de pessoas do sexo masculino, existem
variações tipicamente concebidas para designar as que eram exercidas por
mulheres. Assim a juíza de uma festa
é/era a mulher encarregada de organizar …
E a …presidenta?
Há
dois séculos que “presidenta” está na nossa língua comum: na tradução de Ligações Perigosas lemos presidenta, do original “la présidente”.
Esta nunca estudou direito, mas tinha, desde o século XV, direito ao título
porque era a esposa do presidente do tribunal. E com a mudança social, em
francês coexistem para designar a mulher que preside a uma assembleia “la président/la
présidente”. Uso duplo que marca uma escala de tolerância: os média escrevem “la présidente” ao traduzirem
o espanholismo argentino “la presidenta”(para a PR Cristina Kirchner), o portuguesismo
brasileiro “a presidenta” (para a PR Dilma Roussef). O inglês resolveu o dilema apagando as marcas morfológicas de género.
E a …variação?
Sob os novos paradigmas sociais, a embaixatriz coexiste no vocabulário com a
embaixadora, mas o cônjuge do sexo masculino não está ainda no vocabulário,
assim como não temos uma palavra para designar a contraparte masculina de
primeira-dama/First Lady/Prémière-dame…Menos ainda, da segunda-dama.
E a matriz latina, ajuda a definir?
De
género neutro eram as instituições (Templo, fórum, matrimónio, património,
império). Mas o género feminino especificava também os conceitos abstratos: Virtude,
honra, caridade, liberdade, independência…
Um
argumento interessante seria usar a regra que diz que o substantivo é feminino
quando exige o artigo feminino. Pronto!
NNO
(Nova norma ortográfica): dialética , reação, atualidade, abstratos.
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