Comemorações do Dia de Camões na Universidade
de Cabo Verde
Começo por dar as boas-vindas
a todos os presentes, à nossa Comunidade da Universidade de Cabo Verde, aos
nossos ilustres Convidados, que se dignaram vir à nossa Universidade de Cabo
Verde, a fim de juntos comemorarmos o Dia de Camões que é também a data em que
se celebra o Português como nossa Língua Comum, que partilhamos. O Português
que é a Língua Materna de Portugueses, e para nós Cabo-Verdianos Língua Não-Materna,
Língua Nacional e Língua de Encontros, ou se quisermos de Contactos como
comprovou há dias, nesta mesma sala, o Seminário GELIC.
Língua Nacional, em Cabo
Verde, é para nós a Língua de Camões, e que na nossa Constituição figura em
paridade com a primeira Língua Nacional que é o Cabo-Verdiano. Lembro que a
simples enunciação de “Língua de Camões” produz efeitos interpretativos que são
comuns ao comum dos cidadãos, tanto em Portugal como em Cabo Verde. Aqui e lá
interpretamos “Língua de Camões” como a Língua que nos abriu portas, nos fez
entrar num mundo de oportunidades que a Escola nos proporciona. E sem esquecer todavia que foi também a língua
do poder, da segregação social e racial, mesmo se amenizada, lembramos isto
aqui porque é um exercício necessário para podermos aceitar que a língua é
também nossa, que a ganhamos com muito esforço, como língua que não recebemos
todos do berço. Uma língua que, desde há mais de quinhentos anos, temos vindo a
conquistar com suor, lágrimas e também risos. Uma língua que nos permitiu
também aceder à criação literária no seu sentido mais lato que inclui a música,
essa expressão do génio cabo-verdiano como dizia o Professor e Escritor
Baltasar Lopes. Uma língua que nos permitiu também aceder à criação pela
literatura. Tanto a erudita e propriamente dita literatura, quanto pela
literatura popular que aqui se foi formando e manifesta nas várias expressões
que a criação cabo-verdiana tem produzido.
Uma língua que é viva e foi
padronizada para os fins de expansão e que nos interpela para um maior
aprofundamento no seu estudo, neste sem dúvida marcante “2014. Ano da Língua
Cabo-Verdiana na Uni-CV”, que se segue a “2012. Ano da Língua Portuguesa na
Uni-CV”. Lembremos que, no século XIX, os primeiros textos escritos em Língua
Cabo-Verdiana foram inspirados por poemas de Camões como “Aquela Cativa que me
tem Cativo/Barbara Bonita Scraba” ou o canto quinto de “Os Lusíadas” traduzido
em Linga de Sentonton por um natural
dessa ilha, Santo Antão, esse canto que evoca as Filhas do Velho Héspero, as
Hespérides, um mito a que Camões dá nova vida, no caminho da Expansão – que vai
enriquecer a Língua Portuguesa com novos contributos, resultando dos encontros
de culturas e línguas.
É ainda pertinente dizer que,
além de representar a Mgª Reitora impossibilitada de estar presente aqui hoje, eu
estou aqui enquanto professora de Português e estudiosa das nossas línguas
nacionais. Estudar porque o papel de professora a isso me obriga! E isso é uma atividade que me tem permitido
empreender caminhos que vão ter à História da Língua Portuguesa, este Português
que me exige uma atualização constante, como, por exemplo, a obrigação de
estarmos atentos não só à atualidade da Língua, mas ainda atentos aos caminhos
que a atualidades da investigação vai abrindo, e lembro aqui que se quando abordei
a História da Língua Portuguesa em 1986, no fim da licenciatura, na
Universidade de Lisboa, era tido como verdade que o texto mais antigo era de
1212 ou 1214, poucos anos depois quando voltei lá para fazer a pós-graduação
para a especialização no ramo do ensino, os estudos da eminente linguista Ana
Martins tinham demonstrado, já nesse início dos anos Noventa, que o texto mais
antigo era o “Notícia de Fiadores”, de 1175! É caso para dizer que os 800 anos
da Língua Portuguesa (que alguma distração fez celebrar aqui há dias) nunca
foram festejados na data certa, se calhar, nunca acertaremos o passo com as
datas do passado, haverá sempre mais uma fonte a descobrir. Celebremos pois o
dia de hoje, Dia de Camões, esse grande Camões, a quem os desventurados grandes
poetas chamam de “meu semelhante”, e patrono para os que amam a Língua
Portuguesa, dele e nossa, sempre viva.
Universidade de Cabo Verde no
Campus do Palmarejo, 11 de junho 2014.
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