Qual a diferença entre governança e governação
Há anos que tenho opinado (com base em fontes) que o anglicismo
governance deve ser tratado como tal. Ou seja, usado sempre que não exista
equivalente e escrito entre aspas (neste caso, italicizei-o) para indicar que
não é uma palavra do português. Como anglicismo, o seu uso deve indicar que não
há em português um vocábulo exacto/exato
para o traduzir.
De facto “governance” em inglês tem um leque tão variado de usos que se
pode aplicar a noção a quase todas as a(c)tividades desde a política até à
economia e à etnologia, a nível tanto formal como informal, etc. Como se pode
ver, bem longe do carácter especializado que se lhe anda a conferir na nossa
língua oficial em que exprime a ideia de
que se trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração
mais transparente de toda uma sociedade.
Todavia, o leitor pode ficar enredado no facto de que os actuais/atuais dicionários gerais têm estado a definir “governança” como sinónimo de “governo” e “governação” (para referir o “acto/ato de governar”). E, de
facto, a palavra “governance”, embora ande traduzida como “governança”, é também muitas vezes
posta em correspondência com “governação” (nas traduções, por exemplo, que
exigem rápidas transferências. Pressa, como é próprio infelizmente do
vocabulário mediático).
O interesse de “governança” como noção (vamos
adje.c.tivá-lo e com exagero) renovada explica-se assim: o utilizador sente que
ganha em transparência em detrimento de governação, uma noção, vamos dizê-lo
(de novo com exagero para se perceber melhor), obsoleta – porquanto, traz
consigo tudo quanto é não-eficaz se o utilizador quiser transmitir de si uma
imagem positiva de líder -- representativo, transparente, carismático, criativo
no contexto político, com sentido de Estado, etc.
1ª recomendação: use
“Governação”
Em português, o vocábulo a utilizar quando nos queremos
referir ao “acto/ato de governar” é “governação”. O seu étimo é
“gubernare”, já utilizado no primeiro tratado existente tanto quanto sabemos, a
“Politeia” de Platão. O verbo que encontramos em latim para significar desde o
dirigir um navio, ou intransitivamente dirigir, governar, … e até sustentar-se
a si e à família.
2ª recomendação: evite
“Governança”
O uso de “governança”, que tem vindo a ser feito como sinónimo de
“governação”, tem de ser explicado para perceber o quanto é, por razões de
lógica e economia linguística, para evitar.
Ora bem, “governança” foi até ao século XV utilizado no domínio de poder
administrativo não emanando do rei, ou seja com o sentido que hoje temos para
“governação”. Como mostram textos anteriores, “governação” foi primeiro
utilizado no domínio marítimo e, com o tempo, começou a estender-se à
administração política (como mostram os textos jurídicos do séc. XV) e
especializou-se neste domínio. Com isso, “governança” perdeu o sentido no domínio da administração de poder
municipal, como se especializara e que passou doravante para o vocábulo “governação”.
Em sentido especializado, temos pois “governação” enquanto que “governança”,
a partir do século XV, passou a ter um sentido pejorativo (pelo menos, em
português de Portugal – PE). Isto que o especialista analisa ao fim de anos de
estudos sobre textos desde o português médio ao coetâneo, pode o leitor curioso
consultar em segundos nos dicionários hoje disponíveis até online.
3ª recomendação: se não
puder evitar, use “Governance”
Se sente que não pode usar “governação” e explicar ao mesmo tempo que se
trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração mais
transparente de toda uma sociedade… então use “governance”(e esqueça que esta veio do francês “gouvernance”).
Mas… os dicionários
dizem que são sinónimos?!
Qual a diferença entre governança e governação
Há anos que tenho opinado (com base em fontes) que o anglicismo
governance deve ser tratado como tal. Ou seja, usado sempre que não exista
equivalente e escrito entre aspas (neste caso, italicizei-o) para indicar que
não é uma palavra do português. Como anglicismo, o seu uso deve indicar que não
há em português um vocábulo exacto/exato
para o traduzir.
De facto “governance” em inglês tem um leque tão variado de usos que se
pode aplicar a noção a quase todas as a(c)tividades desde a política até à
economia e à etnologia, a nível tanto formal como informal, etc. Como se pode
ver, bem longe do carácter especializado que se lhe anda a conferir na nossa
língua oficial em que exprime a ideia de
que se trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração
mais transparente de toda uma sociedade.
Todavia, o leitor pode ficar enredado no facto de que os actuais/atuais dicionários gerais têm estado a definir “governança” como sinónimo de “governo” e “governação” (para referir o “acto/ato de governar”). E, de
facto, a palavra “governance”, embora ande traduzida como “governança”, é também muitas vezes
posta em correspondência com “governação” (nas traduções, por exemplo, que
exigem rápidas transferências. Pressa, como é próprio infelizmente do
vocabulário mediático).
O interesse de “governança” como noção (vamos
adje.c.tivá-lo e com exagero) renovada explica-se assim: o utilizador sente que
ganha em transparência em detrimento de governação, uma noção, vamos dizê-lo
(de novo com exagero para se perceber melhor), obsoleta – porquanto, traz
consigo tudo quanto é não-eficaz se o utilizador quiser transmitir de si uma
imagem positiva de líder -- representativo, transparente, carismático, criativo
no contexto político, com sentido de Estado, etc.
1ª recomendação: use
“Governação”
Em português, o vocábulo a utilizar quando nos queremos
referir ao “acto/ato de governar” é “governação”. O seu étimo é
“gubernare”, já utilizado no primeiro tratado existente tanto quanto sabemos, a
“Politeia” de Platão. O verbo que encontramos em latim para significar desde o
dirigir um navio, ou intransitivamente dirigir, governar, … e até sustentar-se
a si e à família.
2ª recomendação: evite
“Governança”
O uso de “governança”, que tem vindo a ser feito como sinónimo de
“governação”, tem de ser explicado para perceber o quanto é, por razões de
lógica e economia linguística, para evitar.
Ora bem, “governança” foi até ao século XV utilizado no domínio de poder
administrativo não emanando do rei, ou seja com o sentido que hoje temos para
“governação”. Como mostram textos anteriores, “governação” foi primeiro
utilizado no domínio marítimo e, com o tempo, começou a estender-se à
administração política (como mostram os textos jurídicos do séc. XV) e
especializou-se neste domínio. Com isso, “governança” perdeu o sentido no domínio da administração de poder
municipal, como se especializara e que passou doravante para o vocábulo “governação”.
Em sentido especializado, temos pois “governação” enquanto que “governança”,
a partir do século XV, passou a ter um sentido pejorativo (pelo menos, em
português de Portugal – PE). Isto que o especialista analisa ao fim de anos de
estudos sobre textos desde o português médio ao coetâneo, pode o leitor curioso
consultar em segundos nos dicionários hoje disponíveis até online.
3ª recomendação: se não
puder evitar, use “Governance”
Se sente que não pode usar “governação” e explicar ao mesmo tempo que se
trata de uma forma de governação que pugna por um tipo de administração mais
transparente de toda uma sociedade… então use “governance”(e esqueça que esta veio do francês “gouvernance”).
Mas… os dicionários
dizem que são sinónimos?!
Resumindo o que acima
fica, transcrevo: “A noção de governança parece ter a agenda secreta de
racionalizar totalmente a governação, de não deixar nada por explicar” (J. M.
Curado, Estruturas de Governação, CDN2006).